COLUNA MÁRIO BORTOLOTTO #2
O DIRETOR DE TEATRO – UM OBCECADO TÍMIDO
Sou um obcecado tímido. Não demonstro como deveria, mas me impaciento diante de qualquer passe mal dado, qualquer levantada de bola na área no momento errado. Me desculpem a analogia do teatro com o futebol. Mas é assim que vejo. Sempre pensei no diretor de teatro como um técnico de futebol. E com a mesma impaciência que o técnico costuma ficar fora de campo, nós também ficamos, escondidos no escuro da plateia ou no camarim ou mesmo em cena como acontece comigo às vezes e como está acontecendo nesse momento que estou ensaiando uma nova peça em que também estou atuando. O diretor é um candidato a AVC constante. Vc espera que tudo funcione como nos treinos (ensaios) e qualquer ori entação mal interpretada faz com que raios saiam de nossas cabeças atormentadas. Vejo os meus amigos diretores trabalhando e me identifico totalmente com eles. E agora estou de novo fazendo essa loucura que é dirigir um espetáculo de teatro. Participar de um espetáculo de teatro. E já fiz isso tantas vezes ao longo de já minha extensa vida. Talvez tenha a ver com o fato de eu não ser mais aquele jovem impetuoso. Agora sou apenas um velho diretor que volta pro ringue como um lutador no décimo quinto round. E vou esperar que tudo funcione como um relógio que acertamos pra nos expulsar da cama às 11h56 (eu tenho essa mania com os números quebrados e os detalhes que ninguém dá muita atenção). Dirigir teatro é isso. Prestar atenção nos detalhes que ninguém parece estar de fato interessado. Pelo menos nos detalhes que te deixam obcecado. Mesmo que timidamente obcecado.
- Mário Bortolotto.
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