COLUNA MÁRIO BORTOLOTTO #4

[ foto/frame: Trip TV ]


 O ATOR QUE IMPROVISA

Tô de saco cheio de atores que todos os dias querem experimentar algo novo nos espetáculos. Do nada, o cara muda tudo o que foi combinado quebrando o ritmo do espetáculo, surpreendendo o ator que está contracenando com ele e que fica totalmente vendido em cena e traindo a direção do espetáculo (até entendo isso em atores com pouca experiência e que fazem isso na total inocência, mas estou me referindo a atores que já estão no negócio há um puta tempo e que agem dessa maneira). A gente fica ensaiando um mês ou mais justamente para que possamos experimentar e achar o jeito certo de fazer. Quando encontramos e estreamos a peça, a ideia é exatamente solidificar o que foi combinado. E solidificar tão bem que cinco espetáculos depois vc já consegue fazer (as marcações) e dizer (o texto) com toda a verdade do mundo, sem nenhum tipo de hesita&c cedil;ão, É se apropriar daquilo de tal forma que o público não perceba o truque (?), é parecer para o público que aquele texto acaba de ser dito pela primeira vez, que o ator está fazendo tudo aquilo com toda aquela precisão pela primeira vez. Para mim, esse é o grande ator. E não aquele que está todo dia buscando uma nova forma de fazer. Se não suporta fazer tudo igual todos os dias (para plateias diferentes - eles se esquecem disso - a novidade é para o público e não para o ator), esqueça o teatro. Vá fazer qualquer outra coisa que lhe permita ser diferente todos os dias. Sei lá, vá dançar num clube de mulheres, qualquer coisa que lhe permita o improviso que vc tanto ama. O teatro não é o seu lugar. Pelo menos, o teatro que eu admiro e gosto de fazer. 

- Mário Bortolotto.

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