COLUNA MÁRIO BORTOLOTTO #8
NOSSO ATOR PREFERIDO
Lembro de uma noite estar conversando com meu saudoso amigo Marcos Cesana e a gente falava sobre as pessoas que sempre se sentem na necessidade de emitir suas opiniões como se elas fossem cruciais para o resto da humanidade. O filme que ele gosta é que é bom. Se ele achar uma merda, então é. E quem não concordar com ele é um imbecil. Tipo isso. Eu apresento uma peça e quando acaba, tudo o que quero é sentar numa mesa de bar e beber algo falando besteira com os amigos, só isso. Já fiz o meu trabalho, agora deixa eu relaxar. Mas sempre tem um merda de um espírito de porco que me intima: "Olha, eu go stei da peça, mas tem um negócio que eu acho que tá errado. Eu vou te dizer o que é. Presta atenção" ou "Olha, eu percebo que você se equivocou na escolha do ator tal" ou ainda "Essa sua nova peça é uma merda, hein, Marião? Mas nem tudo está perdido. Me ouve"
Eu perguntei alguma coisa?
Caralho, fico imaginando: Será que ele pensa mesmo que vou mudar um milímetro de minha peça após ouvir suas ressalvas? Será que ele pensa que vou convocar o elenco ali mesmo no bar pra uma reunião de emergência e ficar ensaiando de madrugada pra tentar acertar a peça que ele acha equivocada? Será que ele acha mesmo que a sua opinião é tão importante assim pra mim?
E tem aqueles malas que entram no camarim. O elenco tem umas 10 pessoas. Ele chega pra uma só e fala: "Você foi o melhor". Puta falta de educação, no mínimo. Se ele acha a pessoa a melhor, então chama a pessoa no canto e fala só pra ela. Não precisa falar na frente de todos os outros. Não faz os outros parecerem um monte de merda. Que filho da puta.
Sei que tem muita gente que gosta do meu trabalho, mas também sei que tem uma porrada que me odeia. Quando o meu amigo Bactéria tinha o Sebo de livros ali no Satyros 2, ele me disse que pintavam uns carinhas de teatro (geralmente estudantes de teatro) lá no Sebo, viam algum livro meu e comentavam: "Esse autor é horrível" e coisas do tipo. Quando o Bac dizia que era meu amigo, eles ficavam meio intimidados. Normal, né? Quem não se intimida com Dom Bactone?
Em resumo, minha opinião não é tão importante assim. E a sua também não é. Nem a de ninguém. Mas sempre tem os sujeitos que fazem questão de emitir suas opiniões pessoalmente e exigem que você preste atenção e os leve a sério. Ah, meu saco. Eu vou continuar trabalhando apesar da opinião de quem quer que seja. Algumas pessoas vão gostar do meu trabalho. Outras vão odiar. E outras ainda vão cagar pra ele. Por mim, tá tudo certo.
Fico pensando o seguinte: "Onde estaria o Paulo Coelho agora se ele dependesse de minha opinião pra continuar trabalhando?"
- Mário Bortolotto.
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