COLUNA MÁRIO BORTOLOTTO #1


[ foto/frame: Trip TV ]

EM BUSCA DA DOSE PERFEITA

Nada substitui o prazer de assistir um filme ou uma peça onde os diálogos nos envolvem e nos conduzem para dentro de uma história. Por isso a minha insistência em manter sempre os diálogos originais e o respeito quase sagrado pelas palavras escolhidas pelos dramaturgos. Tenho assistido muitos filmes com origens teatrais, o que sempre leva muitos detratores desse tipo de filme a cometerem as mesmas críticas rasas do tipo “ah, mas isso parece teatro”, como se fosse um demérito da produção. Há muito desisti dos filmes e peças de mero entretenimento. Não assisto blockbusters e muito menos esse tipo de comédia produzida a exaustão e que não conseguem me provocar o mais econômico sorriso. E me considero um sujeito muito bem humorado. Isso faz de mim um er udito ranzinza e pernóstico? Não creio. A busca que sempre tive pelo refinamento da linguagem não me transformou em um autor hermético e que prefere confundir o espectador com jogos de palavras e embates de metáforas. Persigo sempre a simplicidade, mas isso não quer dizer que eu queira tornar as coisas fáceis. A verticalização e o aprofundamento das ideias sempre me levou ao extremo de reescrever incessantemente a primeira conceituação que me ocorreu, por mais bem formatada que ela me parecesse pela primeira vez. É sempre possível buscar aprimorar, ainda que sejamos às vezes arrastados implacavelmente à concepção original dentro do conceito de reversibilidade. O que eu tenho buscado e raramente encontrado na minha exaustiva peregrinação como dramaturgo é justamente uma cumplicidade com os atores que beire o acinte de uma lealdade que prescinda d e notas promissórias ou de acordos pré estabelecidos tendo como único e simplório objetivo evitar rancores e animosidades. Seria simplesmente tácito, sem a necessidade dos enfadonhos convencimentos e extenuantes argumentações. Com o tempo, aprendi a me resignar o com o fato irrefutável de que seria sempre bisonhamente maltratado por àqueles que deveriam ser em princípio meus leais cumplices de jornada. Partindo dessa cruel suposição, auguro ainda ser surpreendido com demonstrações de zelo e respeito pelas sutilezas que procuro imprimir em minhas tortas aventuras dramatúrgicas. E é com este agradável e ilusório pensamento que tentarei dormir essa noite. E talvez até consiga afinal uma merecida boa noite de sono.

- Mário Bortolotto.

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